À medida que as tecnologias avançam, os movimentos e ativistas do software livre também avançam.
Nesta 21ª edição do FLISoL, analisamos a história de um dos eventos mais importantes da região latinOamericana para garantir uma internet livre e aberta.
O ano de 2005 foi de mudança. Poucos meses antes da primeira edição do Software Freedom Day e um ano e meio depois do primeiro Festival de Instalação de Software Livre Colibrí (FISLC) na Colômbia, um grupo de entusiastas da cultura livre celebrou a primeira edição do FLISoL no dia 2 de abril. O primeiro já superou as expectativas de seus promotores, a própria imagem do Festival representava a intenção de uma unidade regional.
Após uma primeira edição bem-sucedida do FLISoL, com muitos países fortalecendo comunidades tecnológicas, se organizando e se reunindo para discutir liberdade, mudanças importantes começaram a tomar forma, como políticas nacionais implementando software livre nos Estados e também as contribuições ativas de indivíduos para projetos de software livre. Depois de poucos anos o evento já estava sendo realizado simultaneamente em mais de 100 cidades de 13 países.
O Mandrake (mais tarde renomeado Mandriva) foi o sistema operacional instalado no início do festival, representando grandes desafios e exigindo muito tempo de preparação antes de ter os CDs instaláveis que eram preparados um a um. Foi uma época da história em que gravar discos parecia uma missão à Lua, dadas as condições de infraestrutura tecnológica e a qualidade da conexão à Internet. Uma época em que a comunicação era muito mais lenta, os meios de comunicação eram as listas de e-mail, as mensagens de texto eram pobres e as mídias sociais e o mundo do streaming que conhecemos hoje, ainda não existiam.
Hoje, o FLISoL é celebrado em mais de 200 cidades, refletindo uma expansão territorial significativa. Embora seja realizado em sua maioria na América Latina, ele está se expandindo para outras partes do mundo. Em 2008 a comunidade concordou que o 4° sábado de abril de cada ano seria a data oficial do evento e com os desafios impostos pela pandemia em 2020 (COVID-19) sua realização foi totalmente virtual pela primeira vez. A velocidade com que a tecnologia trouxe novas oportunidades e desafios, refletem como esse festival foi se moldando e sempre promovendo e usando ativamente softwares livres.
E quem diria que aquilo que facilita o alcance e a divulgação do fLISOL seria também aquilo que dificulta práticas DIGITAIS mais livres e soberanas?
Desde 2013, após as revelações de Snowden, o mundo tem sido abalado pela incerteza, pela dúvida e até mesmo pela descrença em relação à vigilância governamental/empresarial e à nossa falta de privacidade. Nos anos seguintes, aprendemos o que de fato acontece nos bastidores dos serviços que usamos na Internet, desde redes sociais até plataformas que facilitam milhares de transações diárias. Diante disso, o movimento software livre surgiu como uma solução para a incerteza, promovendo a soberania tecnológica e um código aberto que qualquer especialista técnico pode auditar. Um modelo que prioriza liberdades fundamentais que contribuem para a construção de um ambiente informado para a tomada de decisões e a escolha de quais ferramentas usar. Na América Latina onde as liberdades custaram tanto ao longo dos séculos, essa abordagem democrática sobre a tecnologia é cada vez mais apresentada como um ideal necessário.
O FLISoL evoluiu de um evento que visava apenas atingir a comunidade de Software Livre para uma reunião mais ampla, buscando envolver novos públicos e apresentá-los à filosofia da cultura livre. A mídia digital facilitou a comunicação, migrando de listas de e-mail para postagens em mídias sociais. Além disso, as aspirações iniciais dos promotores do Festival foram alcançadas com a realização das transmissões ao vivo dos eventos, permitindo alcançar aqueles que não podem comparecer pessoalmente.
Essas transmissões, usando ferramentas livres e outras gratuitas, se tornaram o único meio de produção e participação em 2020 devido à pandemia, atenderam ao desejo dos ativistas de realizar o festival em um contexto de saúde extremamente difícil. Isso sem dúvida, teve um impacto significativo na logística e nos componentes que caracterizaram as reuniões presenciais por mais de uma década, naquele ano os eventos foram transformados em palestras virtuais oferecidas por ativistas, acadêmicos e apaixonados pela filosofia do FLISoL.
A instalação de softwares e sistemas operacionais, palestras, workshops, painéis, demonstrações e outras atividades despertaram a curiosidade de milhares de participantes ao longo dos anos. Cada comunidade de tecnologia que se reuniu para organizar um FLISoL encontrou outras maneiras de interagir e fortalecer laços dentro de seus territórios.
Assim, há 20 anos o FLISoL ainda é celebrado. A data oficial continua sendo o quarto sábado de abril, mas cada comunidade pode decidir sua própria data com base nas características específicas de seu território. Ainda existe um Coordenador Nacional, mas cada localidade decide e gerencia os detalhes específicos de seu evento. Isso inclui o compartilhamento de recursos como materiais gráficos e o wiki oficial do festival, que existe desde 2006 e abriga 20 anos de história de organização, celebração e trabalho comunitário colaborativo.
A 21ª edição do FLISoL que será realizada no dia 26 de abril, apresenta o mesmo entusiasmo, comprometimento e alegria que continuam a unir o movimento desde o começo. O objetivo permanece o mesmo: compartilhar em comunidade e confrontar as desigualdades e os preconceitos facilitados pela tecnologia. Ajudar a formar opiniões e trocar experiências entre ativistas, estudantes e todos interessados em tecnologia e internet. Convidamos você a contribuir para essa conversa importante e agir por um futuro digital mais livre e seguro.
Essa é uma tradução livre do seguinte post original em espanhol: https://www.derechosdigitales.org/25046/el-festival-latinoamericano-de-instalacion-de-software-libre-cumple-20-anos-y-se-renuevan-los-desafios/